A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou que quase R$ 500 mil de dinheiro público são gastos por ano para disseminar informações falsas, atacar e denegrir adversários ou quem discorda do Governo Jair Bolsonaro.
Segundo ela, esse dinheiro é usado para pagar o chamado Gabinete do Ódio, grupo que seria formado por quatro funcionários da Presidência da República e que é coordenado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) e pelo vereador Carlos Bolsonaro, dois dos filhos do Presidente da República.
As declarações foram dadas nesta 4ª feira à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga a disseminação de informações falsas em redes sociais e aplicativos de mensagens, a CPI das fake News.
Ela confirmou o que outro deputado, Alexandre Frota (PSL-SP), havia dito à CPI: o gabinete do ódio funciona dentro do Palácio do Planalto.
“Eu quero crer que o Presidente não sabe disso, mas o Eduardo está amplamente envolvido com o gabinete do ódio”, garantiu Joice Hasselmann, que até outubro era líder do Governo no Congresso Nacional.
No entanto, respondendo a uma pergunta de Alexandre Frota, ela admitiu que Jair Bolsonaro replica esse tipo de mensagens entre suas listas de transmissão.
Para provar o que disse, Joice Hasselmann trouxe uma série de documentos e prints (impressões digitais) de diálogos pelo whatsapp entre os integrantes do que ela chamou de rede.
Quem faz parte – Dessa rede, segundo a deputada, fazem parte, além de Eduardo e Carlos Bolsonaro, Filipe Martins (segundo ela muito próximo a Carlos), José Matheus, Mateus Diniz e Tércio Arnaud, assessores que trabalham no Palácio do Planalto e que fariam parte do ‘gabinete do ódio’, Dudu Guerreiro (assessor de Eduardo Bolsonaro), a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o escritor Olavo de Carvalho, que, de acordo com ela, atua incitando a militância pró-Bolsonaro.
“Eu tinha um relacionamento muito bom com ele (Olavo de Carvalho), mas me surpreendi com a guinada dele entre a teoria e a prática, pois ele faz tudo diferente do que diz na teoria. E nos afastamos”, disse, se referindo ao escritor.
Além disso, de acordo com Joice, a rede também é composta por deputados federais e estaduais e assessores.
Neste último caso, Joice Hasselmann citou o deputado estadual em São Paulo, Douglas Garcia, e assessores dele que ganham entre R$ 7 mil e R$ 10 mil.
Esses assessores integram o Movimento Conservador, fundado há cerca de um ano.
Modo de Operação – A deputada não se limitou a apontar nomes.
Ela explicou também, passo-a-passo, como o grupo opera.
De acordo com Joice, Eduardo Bolsonaro determina o alvo (pessoa) a ser atacado e as mensagens começam a ser disparadas.
Ela admitiu que ultimamente Carlos Bolsonaro está um pouco afastado (há cerca de três semanas o vereador fechou as contas das redes sociais).
Todos os ataques, de acordo com ela, são combinados em grupo fechado no Instagram, e não pelo WhatsApp.
A partir daí, pelo que disse a deputada, entram em cena deputados, assessores, militantes e até mesmo voluntários, espalhando ataques com informações falsas em uma bolha que engloba oito milhões de pessoas.
E aí, segundo a deputada, entra a grande arma da rede: os robôs e os perfis falsos (como o Pavão Misterioso), que disseminam as mensagens de maneira avassaladora em pouco tempo.
Ela citou como exemplos de uso de robôs, postagens no Twitter que foram retuitadas quase 88 mil vezes em uma hora.
“É humanamente impossível”, resumiu Joice, referindo-se o número.
“Para fazer cada disparo com robô custa R$ 20 mil”, revelou a deputada, que não soube dizer de onde sai o dinheiro para financiar esse mecanismo.
“Se a gente tá falando de tantos robôs, de onde sai esse dinheiro? O foco da CPI deve ser: de onde sai esse dinheiro?”, alertou Joice.
Joice Hasselmann chegou à CPI com mais de meia hora de atraso, o que chegou a suscitar desconfiança entre os membros da Comissão de que ela havia desistido de comparecer.
“Até o último momento pessoas me ligaram para que eu não viesse”, justificou o atraso assim que começou a falar, revelando que ministros fizeram esse pedido, mas jamais em tom de ameaça.
Segundo ela, tudo que apresentou “é fruto de uma investigação depois que virei alvo de ataques coordenados pela internet”.
“Eu não estou falando o que eu acho. Seria leviano. Há laudos (que comprovam). Por isso não vim aqui antes”, justificou novamente, agora porque adiou o depoimento marcado para três semanas atrás.
Ela assegurou que esses laudos são assinados por perito renomado.
“Eu estou contra uma organização criminosa que age de forma coordenada. Alguns fazem por dolo (com intenção), outros por efeito manada”.
Na investigação feita por conta própria, Joice Hasselmmann contou que foi auxiliada por uma tecnologia chamada Botometer, desenvolvida nos Estados Unidos, capaz de, entre outras coisas, diferenciar as mensagens postadas por pessoas das disparadas por robôs no Twitter.
Segundo a deputada, essa tecnologia identificou um milhão e 870 mil robôs entre os seguidores do Presidente da República e do filho Eduardo.
Juntos, os dois possuem cerca de seis milhões de seguidores.
Quando foi destituída do posto de líder do Governo, Joice Hasselmann sofreu ataques que ela atribui ao “gabinete do ódio”.
“Me puseram (nas redes) com roupa de prostituta, disseram que fui garota de programa”, relembrou, acrescentando que essas mensagens chegaram ao celular do filho dela, de 11 anos.
Joice Hasselmann colocou à disposição da CPI todo o material que levou à Comissão, mas pediu sigilo para os prints das conversas entre ela e o Presidente das República, entre elas uma em que Jair Bolsonaro chama deputadas de prostitutas.
Dinheiro – O Presidente da CPI, Senador Angelo Coronel (PSD-BA), informou que a Comissão agora precisa investigar o que foi dito por Hasselmann.
“Não podemos prejulgar, mas ela trouxe provas muito robustas, inclusive com perícia”, comentou Coronel.
“Alguém bancou (os ataques), e nós temos que ir atrás para saber quem bancou. Se foi algum empresário ou se foi com recursos públicos”, informou o presidente da CPI.
Angelo Coronel informou que a CPI poderá indiciar quem tiver envolvimento comprovado com a disseminação de informações falsas e ataques virtuais.
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