O deputado infrafirmado vem, com esteio nos dispositivos regimentais, fazer inserir na ata dos trabalhos desta Egrégia Casa Legislativa, Moção de Pesar pelo falecimento do professor e cineasta baiano Guido Araújo, ocorrida na manhã desta quarta-feira (27), em Salvador.
A Jornada Baiana de Curta Metragem começou, modestamente, em 1972. Depois de 13 anos, já revelando um extraordinário set de resistência em defesa da cinematografia da Bahia, tornou-se mundial, passando a chamar-se Jornada Internacional de Cinema da Bahia.
Assim foi o seu criador. Nascido na cidade de Castro Alves, Recôncavo baiano, em 1934, Guido Araújo deixou, aos 83 anos, o plano terrestre – o mesmo onde dedicou uma vida pelo ensino e a prática do cinema -, e chegou ao ‘set’ celestial.
Mas o seu passamento não vai nos privar da riqueza de sua ‘criatura’. O legado deixado por Guido Araújo, como professor da disciplina Cinema, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e na condição de incansável batalhador pelo crescimento e difusão da cinematografia brasileira, faz da sétima arte um produto consumido, estudado e responsável pela formação de gerações de estudiosos e realizadores do audiovisual no Brasil.
A película da vida de Guido Araújo se confunde com a história do cinema na Bahia. Como criador da Jornada Internacional de Cinema da Bahia, mais relevante evento da sétima arte no Estado, Guido foi responsável por tirar o cinema baiano e nordestino da letargia. Foi protagonista do desenvolvimento do cinema nacional, com a criação da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), primeira entidade cinematográfica em âmbito nacional.
A Jornada de Cinema criada por Guido Araújo tem em sua gênese o espírito contestador e revolucionário, vez que exibiu-se pela primeira vez num dos períodos mais cinzentos da história do Brasil, em 1972, em plena ditadura militar do governo Emílio Garrastazu Médici. O evento seguiu leal aos seus ideais de luta e resistência, promovendo o cinema independente, contestador, notadamente o latino-americano e de outros pequenos países, que enfrentavam a censura das chamadas “republiquetas de banana” e seus governos ditatoriais.
A ‘criatura’ de Guido Araújo foi responsável por trazer à Bahia expressivos nomes do cinema brasileiro e internacional, debatendo sempre temas atuais, como direitos humanos, meio ambiente, camada de ozônio, agrotóxicos, uso racional de água e outros.
A Bahia e a cultura baiana também ocuparam lugar de destaque no trabalho de Guido. No papel de documentarista, dirigiu filmes como A Morte das Velas do Recôncavo (1975), Lambada em Porto Seguro, Raso da Catarina, Maragogipinho (1968), Feira da Banana (1974) e a Festa de São João no interior do Estado e outros.
O trabalho do homenageado recebeu o reconhecimento de entidades do ramo e em vários eventos do cinema brasileiro. Em 2014, foi agraciado pela Associação de Produtores de Cinema do Norte e Nordeste, com troféu das mãos do ator Nelson Xavier. Ano seguinte, foi laureado na 6ª Edição do Cachoeira Doc, com a Mostra Clássicos do Real. Recentemente, teve sua trajetória lembrada na exibição da série O Senhor das Jornadas.
Guido Araújo também difundiu o cinema baiano na Tchecoeslováquia, mais precisamente em Praga, onde residiu e ainda participou do Festival Karlovy Vary. Guido deixa a mulher Mila Araújo, e os filhos Milena e Guido.
Pelo exposto, é que venho prestar esta justa homenagem-póstuma àquele que foi um dos mais importantes e apaixonados expoentes da sétima arte na Bahia.
Que seja dado conhecimento desta moção à Família de Guido Araújo, Fundação Cultural do Estado, à Faculdade de Comunicação da UFBA, à Agência Nacional de Cinema (Ancine), à Fundação Gregório de Matos, à Associação de Produtores e Cineastas da Bahia, à Câmara Municipal de Castro Alves, à Executiva Estadual do Partido Social Democrático.
Sala das Sessões, 27 de setembro de 2017
ANGELO CORONEL
Dep. Estadual – PSD